PERGUNTAS E RESPOSTAS

Qual a relação entre o desmatamento da Amazônia e o consumo de carne?
De acordo com relatório publicado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 80% do desmatamento da Amazônia brasileira está ligado à pecuária.
Dentre os 10 municípios da Amazônia com as maiores áreas desmatadas e os maiores números de focos de incêndio em 2019, dois estão entre os cinco municípios com os maiores rebanhos bovinos do Brasil. Um desses municípios, São Félix do Xingu (PA), abriga o maior rebanho de bovinos por município do país.

Os focos de queimadas da Amazônia não são resultado apenas do tempo seco?
De acordo com pesquisadores do Ipam, na região central da Amazônia, as queimadas naturais são muito raras. A maior parte das queimadas se inicia por ação humana. E, no caso de grandes áreas desmatadas, as queimadas são provocadas deliberadamente para “limpar” o terreno com o principal objetivo de criar pastagem para bois. O elevado número de focos de queimadas na Amazônia em 2019, 60% superior à média dos últimos 3 anos, foi impulsionado pelo avanço do desmatamento na região.

O problema está somente no consumo de carne bovina ou “vermelha”?
Existe uma profunda conexão entre o consumo de qualquer produto de origem animal e com a destruição do meio ambiente, seja pelo desmatamento de biomas como a Amazônia e o cerrado para abertura de pastagens ou produção de soja e milho destinados para ração, seja pela contaminação do solo e da água com dejetos ou ainda pelas enormes emissões de gases de efeito estufa.
Comparada à produção de alimentos de origem vegetal, a produção de alimentos de origem animal é tremendamente ineficiente. . Para produzir 1 kg de proteína de origem animal, são necessários 6 kgs de proteína vegetal na forma de ração. Em média, para cada 1.000 calorias produzidas sob a forma de carne, um animal consome cerca de 10 mil calorias – um desperdício de 90% do alimento consumido. Isso não é apenas ineficiente; com o crescimento da população humana e a redução da disponibilidade de água doce, é também insustentável.
A produção de carnes – incluindo carne de porcos, frangos e peixes criados em cativeiro – ovos e laticínios usa 83% das terras cultiváveis do planeta, para pastagens e produção de ração, e é responsável pela maioria das emissões de gases de efeito estufa provenientes da produção de alimentos Em contraste, fornece apenas 18% das calorias consumidas globalmente.

A plantação de soja é também responsável pelo desmatamento da Amazônia?
Ainda que em menor proporção, as plantações de soja e milho também contribuem para a destruição da Floresta Amazônica, especialmente no estado do Mato Grosso. A soja é considerada uma das principais responsáveis pelo desmatamento intenso de outro bioma brasileiro de grande importância, o Cerrado. Aproximadamente 80% desses grãos são destinados para alimentação de frangos, porcos e peixes criados em cativeiro. O restante é destinado para consumo humano.
A Moratória da Soja proíbe a expansão da sojicultura sobre áreas desmatadas após 2008. Assim, para ampliar a área plantada, os produtores de soja adquirem terras utilizadas para a criação de bovinos, que é uma atividade comparativamente menos rentável. A pecuária acaba então sendo deslocada para áreas cobertas de floresta, onde a soja não pode ser produzida. Embora indiretamente, a produção de soja utilizada para alimentação animal também contribui para o desmatamento da Amazônia.

O que acontecerá se não impedirmos o desmatamento da Amazônia?
A destruição da Floresta Amazônica tem consequências globais e está relacionada intimamente às mudanças climáticas. Isso acontece porque as florestas tropicais retêm grandes quantidades de gases de efeito estufa, que são liberados na atmosfera quando as árvores são cortadas e/ou queimadas, o que contribui substancialmente para o aumento da temperatura global. A Floresta Amazônica armazena entre 150 e 200 bilhões de toneladas de carbono, leva umidade para toda a América do Sul, e é fundamental para estabilizar o regime de chuvas na região e o clima global. Além disso, Floresta Amazônica representa um terço das florestas tropicais do mundo e abriga a biodiversidade mais rica do planeta. Como resultado do desmatamento, até 65% da Amazônia corre o risco de se transformar em uma savana degradada ao longo dos próximos anos.


Reduzir ou eliminar o consumo de carne pode ser prejudicial a economia do nosso país? E quanto aos trabalhadores da indústria da carne?

Para cada 1 milhão de reais de receita com a pecuária bovina, são gerados 22 milhões de custos ambientais e de perda de capital natural. Entendemos que fomentando mercados de produtos de origem vegetal, muito mais sustentáveis, podemos preservar o meio ambiente e o futuro do nosso planeta e, ao mesmo tempo, gerar renda e oportunidades. A economia do país hoje depende muito da pecuária porque são produzidos muitos alimentos de origem animal. À medida que forem produzidos mais alimentos de origem vegetal, a dependência em relação à pecuária diminuirá Essa mudança já está acontecendo. Atualmente, o mercado de produtos de origem vegetal movimenta US$ 50 bilhões ao ano e transforma a indústria mundial.
A bioeconomia na região amazônica é cerca de 20 vezes mais rentável do que a pecuária. Estudos revelam que, enquanto 1 hectare destinado à pecuária gera em média R$ 600,00 por ano, 1 hectare destinado à produção de produtos da floresta, como açaí, cacau e castanha-do-pará, gera em média R$ 12.000,00. Além disso, a bioeconomia fornece insumos para cadeias produtivas agregadoras de valor, como a fabricação de remédios, cosméticos e suplementos alimentares, e gera uma quantidade de empregos proporcionalmente maior do que a pecuária.

Uma dieta livre de produtos de origem animal pode ser prejudicial à saúde?
Diversos estudos científicos vêm demonstrando que a dieta livre de produtos de origem animal não só é completa e saudável, como também é capaz de melhorar significativamente a nossa saúde. Um deles revelou que os voluntários que seguiram uma dieta à base de vegetais apresentaram 16% menos risco de ter uma doença cardiovascular, 32% menos risco de morte por doença cardiovascular e 25% menos risco de mortalidade por todas as causas generalizadas de adultos de meia-idade. Para saber mais clique aqui.


Se a pecuária acabar, onde os vegetais seriam plantados? Ainda haveria desmatamento?

Atualmente 79% da soja e milho produzidos no Brasil são usados para alimentar frangos, porcos e peixes criados em cativeiro, em vez de alimentar diretamente seres humanos. A produção de carnes (incluindo porcos, frangos e peixes), ovos e laticínios utiliza 83% das terras cultiváveis do planeta para pastagens e cultivo de grãos para ração. Em uma área de 1 hectare, na qual seriam produzidos apenas 60 kg de carne, é possível produzir 28.000 kg de batata e 5.000 kg de milho. Isso significa que não haveria necessidade de novas áreas e de desmatamento para o cultivo de vegetais. Estima-se que, sem a necessidade de criar e alimentar animais para consumo humano, seria possível alimentar mais 3,5 bilhões de pessoas, o equivalente a metade da população mundial atual, com as terras agrícolas atualmente existentes. Segundo estudo da Universidade de Oxford, se todos nós virássemos vegetarianos, poderíamos dedicar 80% das áreas que hoje são pastos ao reflorestamento, o que aumentaria a absorção de carbono e mitigaria as mudanças climáticas.

Se as pessoas pararem de consumir produtos de origem animal o que acontece com esses animais? Eles vão continuar procriando e comendo pastagens?
Os animais ditos de consumo reproduzem-se de acordo com a intenção humana de serem abatidos com certa idade e peso. A maior parte da indústria animal utiliza métodos de reprodução artificial e controlados. Os porcos são mortos com 6 meses de vida e os frangos com cerca de 40 dias, às vezes menos. Os bovinos também são mortos ainda jovens, com 2 anos de vida. Isso significa que, com a redução gradual no consumo de produtos de origem animal, a indústria animal ajustaria sua “produção” à demanda decrescente.

Quais as emissões de gases pela pecuária?
De acordo com relatório das Nações Unidas, estima-se que ¼ das emissões globais de gases de efeito estufa oriundas de atividades humanas resultam do desmatamento, da pecuária e do uso de fertilizantes. Enquanto a produção de 1 kg de vegetais emite em média 1 a 2 kgs de CO₂, a produção de 1 kg de carne bovina no Brasil emite gases de efeito estufa equivalentes a 80 kg de CO₂. No caso da carne produzida em áreas desmatadas, esse valor sobe para 440 a 700 kgs de CO₂. Um estudo realizado pela Universidade de Oxford estima que se o mundo todo passasse a ser vegano – sem consumir nenhum produto de origem animal – a queda das emissões ligadas à produção de alimentos seria de cerca de 70%.

Por que vocês não falam de outras iniciativas que podem proteger o meio ambiente?
Certamente apoiamos outras iniciativas que visem a proteção do meio ambiente. O foco da campanha é, no entanto, a redução do consumo de carne, por entendermos que a simples redução ou a eliminação do consumo de produtos de origem animal pode causar um impacto enorme na preservação do meio ambiente. De acordo com relatório das Nações Unidas, estima-se que ¼ das emissões globais de gases de efeito estufa oriundas de atividades humanas resultam do desmatamento, da pecuária e do uso de fertilizantes.

Para onde vai a carne produzida na Amazônia?
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), 79,6% da carne bovina do Brasil foi destinada ao mercado interno em 2018.
Outra prática a que são submetidos os bois criados na Amazônia é a exportação de animais vivos. Em 2018, o Pará foi o estado que mais desmatou a Amazônia. Nesse mesmo estado ocorrem 65,7% dos embarques de animais vivos para exportação. O destino principal desses animais é o Oriente Médio.

Sou uma empresa/instituição, o que posso fazer para ajudar a preservar a Amazônia?
Você pode ser um dos líderes desse movimento global por meio da parceria com o programa Alimentação Consciente Brasil, que presta consultoria gratuita a instituições que servem refeições em larga escala, como refeitórios de escolas, universidades, restaurantes populares e instituições de assistência social com o objetivo de viabilizar a substituição de pelo menos 20% dos produtos de origem animal por produtos de origem vegetal, promovendo saúde e sustentabilidade. Para saber mais clique aqui.

Por que colocar toda a culpa no pecuarista?
O problema realmente não é o pecuarista. Ele é parte e também vítima de um sistema destruidor. A pecuária é onde hoje está a maior parte do trabalho escravo no Brasil, além de ser a maior causadora dos processos de desmatamento, desertificação do solo e poluição de rios. A pecuária também é a peça central de um sistema altamente ineficiente de geração de alimentos, que explora e mata bilhões de animais todos os anos. Já o sistema agrário baseado em vegetais é muito mais sustentável, produtivo e eficiente. A culpa não é apenas do pecuarista, mas de todo o sistema de consumo que é baseado em hábitos alimentares altamente danosos ao meio ambiente. Por isso, a melhor forma de transformarmos essa realidade em um espaço curto de tempo é reduzindo ou eliminando o consumo de produtos de origem animal.

E as outras Florestas (ex. Atlântica) não temos que cuidar/salvar/preservar?
Sim. A preservação de todas as florestas é importante. A produção de carnes (incluindo porcos, frangos e peixes criados em cativeiro), ovos e laticínios utiliza 83% das terras do planeta para pastagens e cultivo de grãos para ração. É um sistema extremamente improdutivo, ruim para os animais, para o meio ambiente e para as pessoas. A produção de alimentos de origem animal está, direta ou indiretamente, ligada à destruição do Cerrado e do Pantanal, dois importantes ecossistemas brasileiros.

Os dados da ONU/FAO que vocês utilizam são confiáveis?
Sim. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) é uma agência especializada das Nações Unidas que tem por objetivo promover a segurança e a sustentabilidade do sistema global de produção de alimentos. Eles utilizam a experiência de equipes multidisciplinares – engenheiros agrônomos e florestais, especialistas em pesca e pecuária, nutricionistas, cientistas sociais, economistas, estatísticos e outros profissionais – para coletar, analisar e disseminar informações relevantes ao desenvolvimento global.

Vi diversas informações na internet sobre dados relacionados ao desmatamento da Amazônia. O que é verdade?
Entendemos que o assunto é complexo e que há muita informação conflitante na internet. Por isso, utilizamos em nossa campanha dados de órgãos e instituições, nacionais e internacionais, renomadas e de alta credibilidade, como ONU, FAO, Ipam, Inpe, Embrapa, ICMBio, dentre outras.

FONTES
1. https://www.fao.org/3/a-i5588s.pdf
2. https://ipam.org.br/wp-content/uploads/2019/08/NT-Fogo-Amazo%CC%82nia-2019-1.pdf
3. https://sidra.ibge.gov.br/tabela/3939
4. https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/08/em-dia-do-fogo-sul-do-pa-registra-disparo-no-numero-de-queimadas.shtml
5. https://epoca.globo.com/sociedade/instituto-da-amazonia-incendios-sao-causados-pela-acao-humana-23899285
6. https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,aumento-no-numero-de-queimadas-esta-relacionado-a-alta-de-desmatamento-aponta-estudo,70002975548
7. https://svb.org.br/livros/impactosdapecuaria.pdf
8. https://science.sciencemag.org/content/360/6392/987
9. https://www.greenpeace.org/brasil/blog/relatorio-conecta-gigantes-do-agronegocio-ao-desmatamento-no-cerrado/
10.https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agricultura/agr_soja/
11.https://www.agrolink.com.br/culturas/milho/informacoes/comercializacao_361415.html
12. https://climate.globalforestwatch.org/map/3/15.00/27.00/ALL/dark/biomass_loss?begin=2001-11-10&end=2018-01-01&threshold=25
13. https://pulitzercenter.org/reporting/amazon-used-be-hedge-against-climate-change-those-days-may-be-over
14. https://g1.globo.com/natureza/noticia/por-que-a-amazonia-e-vital-para-o-mundo.ghtml
15. https://ipam.org.br/cartilhas-ipam/a-importancia-das-florestas-em-pe/
16. https://g1.globo.com/natureza/noticia/por-que-a-amazonia-e-vital-para-o-mundo.ghtml
17. https://cebds.org/wp-content/uploads/2015/07/GIZ-Natural-Capital-Risk-Exposure.pdf
18. https://www.istoedinheiro.com.br/sem-carne-com-lucro/
19. https://www.gwp.org/globalassets/global/toolbox/references/the-environmental-crisis.-the-environments-role-in-averting-future-food-crises-unep-2009.pdf
20. https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-38129638
21. https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2019/08/2b.-Chapter-1_FINAL.pdf
22. https://www.svb.org.br/livros/comendo_o_planeta.pdf
23. https://www.abiec.com.br/Sumario2019.aspx
24.https://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates
25. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/04/porto-de-santos-concentra-apenas-66-de-exportacoes-de-boi-vivo.shtml
26. https://canalrural.uol.com.br/noticias/pecuaria-lidera-lista-trabalho-escravo-brasil-9289/
27. https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/a-agropecuaria-os-problemas-ambientais.htm
28. https://www.fao.org/about/how-we-work/es/